Por que nem sempre amamos e desejamos a mesma pessoa? Sobre desejo e erotismo
Esther Perel, em uma palestra no TED Talks, fala sobre o desejo em relacionamentos sérios: qual é esse efeito estranho do amor que, por vezes, aniquila todo o tesão (e faz com que aventuras extraconjugais pareçam uma ótima alternativa)? Um dos problemas, segundo ela, é que as pessoas procuram conciliar duas necessidades básicas em uma só relação – ao mesmo tempo em que um relacionamento deve garantir segurança e proteção, também tem que suprir a necessidade de aventura e mistério que temos. Ela diz: "
Então nós basicamente pedimos a uma pessoa que nos dê o que antes um vilarejo inteiro nos fornecia. Dê-me merecimento, identidade, continuidade, mas também transcendência e mistério e admiração, tudo junto. Dê-me conforto, limite. Dê-me novidade, familiaridade. Dê-me previsibilidade, surpresa."
A crise do desejo seria, primeiro, uma crise da imaginação – já que a familiaridade muda bastante o jeito como vemos a outra pessoa, e a surpresa das primeiras noites vai acabando.
"Para mim, se há um verbo que vem junto com amor é o "ter". E um verbo que vem junto com desejo é o "querer". No amor, nós queremos ter, queremos conhecer o amado. (...) Mas no desejo, temos a tendência de não querer voltar aos lugares em que já estivemos. (...) No desejo, queremos uma ponte para atravessar."
Ela fala ainda que nós, ao contrário dos animais, temos uma vida erótica, justamente por utilizarmos tanto a imaginação nas nossas relações: "
Somos os únicos que podem fazer amor por horas, ter momentos de pura alegria, orgasmos múltiplos, e sem tocar em ninguém, apenas com a imaginação. Nós podemos insinuar. Não precisamos fazer. Podemos experimentar algo poderoso chamado antecipação, que é a cereja do bolo do desejo, a habilidade de imaginar como se estivesse acontecendo, experimentar como se estivesse acontecendo, quando nada está acontecendo e tudo está acontecendo ao mesmo tempo."
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Neste paradoxo entre amor e desejo, o que parece ser desconcertante é que os ingredientes que nutrem o amor - interdependência, reciprocidade, proteção, preocupação, responsabilidade pelo outro - são os mesmos que podem sufocar o desejo." – e aí, como lidar com uma relação em que há amor sem deixar aquela faísca de desejo apagar, já que o sexo é uma parte importantíssima dessa mesma relação?
E Esther conclui: "
Neste dilema sobre reconciliação nesses dois conjuntos de necessidades fundamentais, existem algumas coisas que percebi nos casais eróticos. Primeiro, eles têm muita privacidade sexual. Eles entendem que existe um espaço erótico que pertence a cada um deles. Eles também entendem que as preliminares não começam apenas cinco minutos antes da relação sexual. As preliminares começam no fim do último orgasmo. (...) Os casais eróticos entendem que a paixão vai e volta. Como a lua. Tem eclipses de vez em quando. Eles sabem que conseguem ressuscitá-la."
O vídeo completo tá
aqui, e vale muito a pena assistir inteiro.